É dito por muitos, que sentem difícil o abster-se de dizer agressividade aos outros. Que ás vezes precisam respirar bem para debilitar as ganas de agredir, até fisicamente, o outro. Dizem que engolem maledicências pois, os outros não precisam ser incomodados pelo sentimento que, via de regra, não lhes pertence.
Eu digo que é difícil abster-me de dizer afetos aos outros. Digo que ás vezes, preciso respirar respirar respirar pra conter a vontade de elogiar, de contar deste admirar, até de comemorar fisicamente, o outro. Engulo belezas pois, os outros não precisam ser afetados pelas sensações que, eventualmente, não lhes interessam em mim.
Parece surreal? ...Pois tenho andado torturada por bons sentimentos. Acreditem-me. Percebi, a custo é verdade, que nem sempre eles devem ser vistos, ouvidos, tocados, degustados ...pelo outro. Creiam-me.
Não entendo bem disso tudo que tanto falo, não, não. Apenas experimento respeitar o que me é sugerido, e por extensão entendo que, se não devo dar palavras, também não devo ofertar abraços. Embora em mim há-braços esperando.
Paciência.
É dito que nascemos para aprendê-la e apreendê-la...
Dizem que é difícil ‘engolir certas palavras’. E assim, vamos lavando alguns discursos, tentando ficar surdos para eles.
E o que se diz de engolir silêncios?
Quando se queria, bem e muito, ouvir determinadas vozes por muito admirar o que dizem mas, não conseguimos acessá-las?
O que se diz de engolir silêncios?
Parece-me mais indigesto, digo com franqueza.
Parece-me que o discurso que não nos interessa, podemos fingir escutar sem contudo fazê-lo.
Mas, e como fingir ouvir a voz que se quer e não se dispõe?
Imaginar o que nos diria? Como???
E o mais louco, por supuesto, é que quase sempre acabamos por esquecer a sonoridade dessas vozes queridas. Lutamos, esprememos a lembrança, apertamos as veias do afeto, iluminamos as lâmpadas oníricas do nosso dentro e... não obtemos sucesso nenhum. Dá a impressão, irônica, que de tanto que queremos tal voz no presente, acabamos por afastar até as memórias passadas.
Somos assim, não somos?
Ás vezes ouvimos por longo tempo, alguém querido expondo coisas que nos são nada queridas. Ele, o falante, normalmente tem lá alguma convicção que julga importantíssima pra todos os seres. Ás vezes é sua ultima grande descoberta. Ás vezes o falante é um debutante universitário. E ouvimos, ouvimos, ouvimos... engolindo discursos que depois nem de longe lembraremos ou, se o fizermos, será só para ressentir um pouco, e logo passará.
Mas os silêncios que temos que ouvir sem escolha conscientemente aceita... esses demoram mais, bem mais. Ficam ali fazendo eco em nossos dentros.
Tem silêncios menos indigestos porque são apenas o refazer de algum ritual que envolveu, em algum tempo, apenas o compartilhar do silêncio. É assim com cafés solitários no final de tarde dos domingos. Não é assim quando os domingos não tem final aparente. Porque os domingos me deprimem. Alguns outros dias também, tem silêncios sufocantes. Eles são um silêncio que grita demais. Ou são um silêncio engolidor, que apaga todos os silêncios que engolimos.
Não sei... e nem quero conhecer quem saiba. Quero deixar isso pra o entendimento das não-palavras. (Silentes).