quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Bem assim





Suspirou de como era bonito gostar assim sem expectativa.
Disse, que era muito lindo olhar sem esperar por nada.
No meio da noite fria
No meio dos cigarros fumaças
No meio do vinho bem tinto
Disse que não ia parar.
Disse que sabia agora como era isso de sentir bem.
Bem sentida, acordada e não dolorosa olhou pra toda a lua em simples.
Disse que não ia dormir sem dizer umas buenas noches a quem.
Respondi que como, que nem ia saber o adorado ser receptor.
Respondeu-me que sim, que saberia sim,
Que sem saber saberia porque sentiria um bem.
Eu, que não quis magoá-la sorri e fui.
Ficou lá dando as buenas noches com toda aquela doçura-onírico-afetuosa pronta a ocorrer, certa de que aquilo era bem.
E deve ter sido...
(Que os bens que se recebe sem saber são sempre os mais firmes?)

domingo, 23 de setembro de 2012

Répétition




Nos domingos as pessoas tem cara de quem botou fora almas que nem sabia a quem pertenciam.
                    Ficam com os olhos parados e dentro refletem abóboras enfeitadas para o natal de quem tem comida. Os que não tem também tem um ar um pouco parecido com isso embora não cintilem abóboras enfeitadas em suas pupilas hirtas.
      Alguns ficam brilhantes e envidraçados mesmo quando a todos os custos queiram parecem afeiçoados a alguma coisa que nem mesmo o mais sensível de todos os seres de todos os reinos seja talvez capaz de supor o que ilusiona essa ilusão. 
        E seguimos todos como se                            soubéssemos para onde ir definitivamente.
 Borbulhada de gargalhadas solapadas eu perguntaria se você já nasceu e pronto.
 Quem pensa que sabe o caminho vai a frente muito sério com doutos ares.
 Quem pensa que quer fingir que sabe vai um pouco atrás dizendo oh, ah e assemelhados.
Quem pensa que já sabe que não sabe vai em qualquer lugar e olha a paisagem enquanto anda para não deixar que o ar esteja em vão nos mundos.
Há ainda quem nada pensa e assim nem vai: já está.

sábado, 15 de setembro de 2012

Suspenso




Ficava, a cada vez, um resto de beijo não beijado
Um resto de abraço não suado
Um resto de palavra não dita
Um inteiro de corpo não incorporado.
Ficava, a cada assombro, um pouco de alguma coisa muy delicada-indefinida.
Ficava...
(E é esse o grande alvo desse pensar)
Não eram cotidianos encontros: eram esparsos e tremidos e fugazes e fremitosos e tartamudeados e fantásticos.
(para um dos que o viviam: dentro desse quem sobravam essas sobras)
E assim.
(nem sempre os fantásticos tem finalizações iluminadas)

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Pensei


Eles nunca tinham me explicado que poderia ser assim. Acho que sei porque.
Eu teria voltado. 
Enquanto não saber locomove, há um ponto da estrada donde não se pode regressar mesmo que a tentativa seja insistente e disciplinada.

Periplo




Venho de uma inefável gana de cometer impossibilidades.
(...como essa de escrever-me)
Venho de longas e longínquas palavrices desdicentes, contando coisas desacontecíveis.
  Até hão quem me dê ouvidos em meio ao que há que nem nem.
     Igual me desaperto: o não dite se urge em mim.
   Os espalhafatos de meu punho não tem expectativa. Já parece fato contado às favas.
        Esse desquerer que me habitua é por demais profano.
         (Ficam boquiabertos os olhantes)
               (e até eu mesma ficaria não fosse essa vinda donde venho...)