terça-feira, 17 de julho de 2012

No mundo



Porque não queria estar condenada a viver apenas o visível, voava.
E porque voava, caía ás vezes.
E quando se erguia, do meio dos pedaços da quebra,
Dizia outro sim ao risco.
Ninguém percebendo o espaço arriscado, eventualmente se poderia supor que estaria a queda inútil, mas não:
Era assim que, suavemente,
Caindo das altitudes múltiplas,
Intervinha dia após dia nos melindres de estar.
Para não estar a esmo,
Voava.
E por voar, caía
E depois de se levantar, voava.
E por voar, caía.
E depois de se erguer, voava.
E por voar, caía.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Menosprezo da boa sorte ou Desafortunada




Chegou, como era de seu costume, e depois de abraçá-la total, grande e longamente como era de seu costume e, depois de fixar os olhos nos dela - total, grande e longamente – perguntou, como não era de seu costume:
-Você se curou de doer de mim?
Ela manteve-se nos olhos dele, enfiou de volta em seu próprio olho com um dedo invisível a lágrima que queria suicidar-se pulando precipício-rosto abaixo e pensou
em todas as vezes que ele chegava e lhe abraçava total, grande e longamente,
em todas as vezes em que ele lhe punha os olhos dentro dos seus profunda, mansa e pacientemente,
em todas as vezes em que ele não lhe respondia aos convites por prudência e cuidado de ser sincero e dizer não,
em todas as vezes que ele não via seus dedos em sangue pela colheita de rosas desenhadas para ele,
em todas as vezes em que ele tomava iniciativa de perguntar-lhe se bem estava,
em todas... as vezes...
Então ela respirou e olhou pra os pés. Depois ergueu os olhos dos pés e colocando uma das mãos nas barbas dele, entrou de novo em suas pupilas e sorriu. Depois se levantou e saiu. Muda.
Ouviu que a chamavam, de maneira desesperada e ansiosa. Num passo quase sôfrego alguém a seguiu. Ela parou e escutou: era o garçom.
Ela esquecera de pagar a conta.

terça-feira, 3 de julho de 2012