quinta-feira, 31 de maio de 2012

Da insônia e outras paixões

 
A insônia é como as paixões solitárias.
Há um corpo cheio, cheiíssimo de uma coisa pronta a acontecer
...que não acontece.
Na insônia, há um corpo bobo, cheio de sono, pronto pra dormir, que não dorme. Você pode até dar pequenas cochiladinhas mas, a ‘coisa em si’ fica esperando acontecer-se. Você até pode sair da cama mas, você não tem nenhuma vontade disso, o que você quer é ficar ali... e dormir, mas... não dorme. E fica.
Nas paixões solitárias há um corpo bobo, cheio de volúpia, pronto para dar-se, que não se dá. Você até pode ter orgasmos-solo mas o querido mesmo seria ser querido pela pessoa querida. Ou seja: ‘a coisa em si’ fica esperando acontecer-se. Você até pode gastar essa coisa com outros seres mas, o que você quer é um único... mas... ele não quer. E pronto.
Ai, ai... quanto ensimesmamento leva-se por aí nesses nossos corpos (insones e amorosos).

terça-feira, 29 de maio de 2012

Enquanto Carlos olhava a quadrilha



Era uma vez Maninha que amava João que amava Tetê que amava Augusto e Roberto.
Augusto não conhecia Tetê, Roberto gostava mais do violão do que de Tetê, João sabia do amor de Maninha mas não o queria, Maninha amava João mesmo assim.
Roberto morreu de violãozite, Augusto foi embora sem nunca olhar para Tetê que sempre olhava pra ele, João sempre olhava pra Tetê e não olhava pra o olhar de Maninha.
Tetê ficou louca completa e João já tinha parado de olhar para ela. Nem ficou sabendo.
Maninha amava João e ficava triste quando percebia que ele estava triste. Queria cuidar dele. Queria mesmo sabendo que ele não queria querê-la do jeito que ela o queria. Maninha queria dizer a João que ele não precisava gostar complicada e demoradamente dela, que ela queria, mesmo assim, dar alento onírico-afetuoso a ele nas horas tristes e passar a mão em sua cabeça e tomar chimarrão com ele e ouvi-lo e fazer comidinhas gostosas pra aliviar sua tensão. João não conversava com Maninha e ela então usava o discreto de não comunicá-lo de suas vontades de estar de braços abertos para qualquer eventualidade de ser abraço para ele.
Suponho que tenham todos vivido ou morrido assim solitários, cada qual com sua maledeta esperança.