sábado, 31 de março de 2012

A primeira vez



-Da primeira vez que alguém optou por nunca mais, sequer, falar comigo, achei dolorido. Até chorei. Pensei em como devia ser rala e estúpida ainda que, o sujeito promovedor do acontecimento tivesse me assegurado enfaticamente o contrário, mais de uma vez. Fiquei confusa apesar de saber que pode-se falar o que não se sente ...mais de uma vez.
    Contou.

- E da segunda vez?
    Perguntaram.

-A segunda vez ainda não aconteceu.
     Disse.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Re-trato



Não sei se conheço conceito para o belo.
Tenho sensações do belo, que não precisam estar acompanhadas de aceitáveis belezas.
(Entende?)
Imagens me fascinam.
Imagens que tem mais ânima do que ‘materialidade’ praticamente me neutralizam de tanto bem que sinto.
Verdade.
Renovam-me o entender do que eventualmente possa ser o tal do encantamento.
Verdade.
Quando pelos olhos sinto, me descomponho de mim, torno-me outra coisa. (E isso também acho belo)
Verdade.
Imagens me neutralizam eu disse. Disse que descolada de mim é como se eu me torna-se a imagem que me encanta.
E mais não sei explicar.
Porque fico assim, praticamente sem respiro
Sem pretensões nenhumas
Sem esperança (isso é a melhor parte)
Suspensa.
Estando nisso, deixo até de desejar o que acaso a imagem contenha mesmo quando, me encante o lindamento da imagem em qualquer momento externo, anterior ou alheio ao do encantamento (esse que tento, em vão, explicar)
Ai, ai... que bem que faz gostar assim.
Acho tão bonito isso.
Verdade.
Gostar despretenciosamente ainda me parece a ponte preciosa entre o simples de estar e a sutileza de perceber.
É calmo. E atemporal?

quinta-feira, 8 de março de 2012

Quietude



Olhando a esmo a vida, eis que perpasso a janela da casa e záz! Desdistraio-me.  Sou acordada pelo assombro.
Ai de mim... que desde sempre deixo-me assombrar, sempre, com a mesma brilhura, altura, loucura, belezura, ventura, dessas luonas das noites desse céu.
Sim poeta, sim. Vale mesmo a pena ter nascido... só por ouvir o vento dizes tu e eu emendo: e por ver a lua, e por ver a lua, e por poder ver a lua.
Ai que lua!
Ai que lua!
Ai que luxo!
E o lume me consome e sou até capaz de parar de pensar desdicências.
Fito-a e fitando-a, intuo um pouco sobre o vazio. (Ui...)
Calada de pensamentos, apenas estou.
Depois de algum tempo, em suspiro, deixo-me estar ainda mais no silêncio que antes parecia alheio a mim. Esse mergulho faz meu corpo desentender-se do que não. Um intenso sim molha um pouco os cílios com beleza. Essa, tonta de tão pura, é o único presente que posso dar.           
Alcanço-o então e se não pressinto nem vejo quem, eventualmente, o recolha, ao menos sei que está ofertado, esse meu nada.
E isso é tudo.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Aprendendo

           ...mas a grande escuta é a do nosso silêncio quando esculpido pelo silêncio do outro
          ... o silêncio que não era seu...

sexta-feira, 2 de março de 2012

Há tempo



-Para onde você vai? Perguntou.
Que não sabia, respondeu o outro.
-Para onde eu vou? Tornou a perguntar-lhe o primeiro.
Que ainda menos sabia, tornou a responder o outro.
Deram-se então as mãos e seguiram trajeto.
Não se abriu nenhum milagroso caminho a suas frentes, e foi efêmero o encontro. Efêmero e alegre. 
Eles se lembraram de Alice perguntando ao coelho:
-Quanto dura o eterno?
-Às vezes dura um segundo.
Respondeu o coelho.